Em cinco meses, cinco jogadores sentiram no
campo o reflexo da conduta do treinador colorado. Fabricio pode ser o próximo
Desde agosto de 2011 em Porto Alegre, Dorival
Júnior consolidou seu estilo de trabalho no comando do Inter não apenas no
campo, mas também em relação à postura. Assim como repreendera Neymar em seus
tempos de Santos, é rígido no Beira-Rio quando o assunto atende pela
disciplina. Em cinco meses deste ano, cinco jogadores já sentiram o reflexo da
conduta do treinador. E nesta terça-feira a direção do clube divulgará a
decisão sobre Fabrício, último caso dessa longa lista.
O lateral discutiu com o
técnico no início do segundo tempo contra o Flamengo, no sábado, pela segunda
rodada do Brasileiro, logo após o gol de Vagner Love. Dorival reclamou na hora
por entender que o jogador saiu errado na marcação, ao ir para cima de Léo
Moura, deixando o "corredor aberto".
– No momento, eu cobrei dele
porque o gol saiu dessa situação. Aconteceu uma reação inesperada que poderia
ter prejudicado a todos. Será trabalhado como sempre no Inter, todos os casos
foram punidos dentro daquilo que aconteceram.
De forma apaziguadora, a
direção agiu na hora e tratou de colocar panos quentes no episódio, ocorrido em
função do "calor do jogo". Só que nesta segunda-feira, o vice de
futebol Luciano Davi deixou a “punição” do jogador em aberto.
O primeiro caso ocorreu com
Bolatti, no início da temporada. O argentino não se reapresentou com o restante
dos companheiros, mas argumentou que já havia pedido autorização para o diretor
técnico Fernandão. Dorival rechaçou que a atitude colocara o volante no final
da fila na disputa por vaga no time. Entretanto, o camisa 8 começou 2012 como
quarta opção no setor.
Atraso de Tinga e Dagoberto
No dia 5 de março, foi a vez
de Tinga e Dagoberto conhecerem a rigidez de trabalho do comandante. Naquela
data, a dupla se enganou sobre o horário de treinamentos, achando que a
atividade ocorreria pela parte da tarde. Acabaram realizando os exercícios
separados dos colegas.
O episódio culminou com um
desenrolar de histórias contraditórias. Dorival justificou, na coletiva do dia
seguinte que, por estratégia, o atacante começaria no banco diante do Santos.
Além dele, o volante também
ficou como alternativa na partida da Vila Belmiro. No desembarque em Porto Alegre, o
comandante do Inter disse que os dois foram preteridos por questões físicas,
fato negado pelo departamento médico e por Dagoberto. O diretor técnico
Fernandão disse que a decisão ocorreu por conta do plano de jogo.
No dia 9, Dorival deu
"fim à polêmica", revelando que os envolvidos sabiam o que havia
acontecido e confirmando o retorno da dupla. Dois dias depois, a dupla assumiu
o erro e reconheceu que a decisão foi acertada.
Março ainda traria ao
técnico mais um caso de indisciplina. Antes da viagem para a Bolívia, onde
enfrentaria o The Strongest, Jô deixou a última atividade mais cedo alegando
mal-estar. Mas não foi só. O atacante não se apresentou no Aeroporto Salgado
Filho. Acabou multado e afastado por 18 dias. Na época, Dorival não escondeu a
decepção com a atitude do jogador.
Quando retomava o bom
momento, Jô aprontou outra vez. Desta vez, com Jajá. Após a eliminação colorada
na Libertadores, diante do Fluminense (no dia 10 de maio), a dupla não deixou o
Engenhão junto com o restante da delegação. Eles teriam saído do estádio para
uma festa, só retornando à concentração do time gaúcho na manhã do dia
seguinte. Na véspera da decisão contra o Caxias, no dia 12 de maio, o então
vice de futebol, Luís Anápio Gomes, anunciou que os dois seriam afastados por
“tempo indeterminado”.
Os dois começaram a treinar
no CT de Alvorada, onde as categorias de base trabalham, na semana seguinte.
Enquanto Jô foi negociado com o Atlético-MG, o meia-atacante recebeu uma nova
oportunidade: será reintegrado ao elenco nesta terça-feira.
Na última sexta-feira
(véspera do jogo contra o Flamengo), mesmo repleto de desfalques, Dorival
afirmou que a correção e seriedade precisavam ser prioridade dentro do grupo,
mesmo reconhecendo que a possibilidade de contar com Jajá amenizaria os
problemas da equipe:
– É um problema sério não
ter o Jajá neste momento, mas isso ocorre por culpa exclusiva do atleta. O
clube é penalizado? Sim, mas para qual lado a gente corre? O Jajá precisa ter
ideia de quanto prejudicou a equipe em momentos importantes. Tanto ele quanto
Jô, que, para mim, foi uma decepção ainda maior. Jogadores assim a gente tem de
deixar de lado.
Dorival defende Dátolo
Embora demonstre seu estilo
disciplinador, Dorival apresenta flexibilidade na hora de avaliar os
acontecimentos. Diante do Fluminense, pelo jogo de ida das oitavas da
Libertadores, o Inter teve um pênalti a seu favor no Beira-Rio. O encarregado
pela cobrança era Nei, tanto que o treinador passou a recomendação ao goleiro
Muriel. Mas Dátolo pediu para bater e Diego Cavalieri defendeu. Após o jogo, o
técnico admitiu que uma alteração pudesse ocorrer em função da confiança do
atleta na bola parada:
– Treinamos quatro ou cinco
jogadores sempre. Dei a ordem para o Nei. As últimas vezes dele foram muito
consistentes. Mas, na hora, quem se sente mais confiante, toma a iniciativa. É
uma decisão de momento, ainda que exista uma decisão de fora. Naquele momento,
os jogadores conversam.
Dorival x Neymar: você se lembra?
Esse talvez seja o caso mais
emblemático entre Dorival Júnior e um jogador, no que diz respeito à discussão
sobre os limites da (in) disciplina. Em 2010, contra o Atlético-GO, Neymar
discutiu com o treinador quando este não o deixou cobrar um pênalti.
Dorival decidiu afastar o
astro da equipe do Santos. A punição duraria apenas uma partida, já que a
direção exigia o retorno do atacante. Na "queda de braço" entre o
técnico e o clube, Dorival, que fazia questão de manter o castigo, saiu
perdendo e acabou deixando a Vila Belmiro.
Por Tomás Hammes Porto
Alegre