POR FELIPE
SCHMIDT
Rio - A decisão da Liga Europa nesta
quarta-feira, em Bucareste, proporcionará o reencontro entre uma matriz e sua
antiga filial. Um dos clubes mais antigos da Espanha, o Athletic Bilbao
enfrentará o Atlético de Madrid, fundado por estudantes bascos e torcedores dos
Leones em 1903. Atualmente, porém, a conexão entre ambos, desgastada pelo tempo
e por motivos políticos, se resume às cores do uniforme.
A princípío, a ideia de Gortazar, Aztorcha e Abdón, os
fundadores, era apenas matar as saudades da terra natal. "Eles eram um
grupo de estudantes universitários de Bilbao vivendo em Madri e sentindo falta
de casa. Era 1903, não havia Internet", conta o autor inglês Phillip Ball,
autor de "Morbo", um livro sobre a história do futebol espanhol.
Como consequência, o Athletic Club Sucursal de Madrid
ganhou as mesmas cores do "pai" de Bilbao - na época, azul e branco
-, que aprovou a ideia e cedeu a base de seu estatuto para a nova agremiação.
Por outro lado, a equipe madrilenha ficava proibida de enfrentar sua matriz.
Política afasta os clubes
Aos poucos, porém, a relação entre os dois clubes foi
diminuindo. A Guerra Civil na Espanha, nos anos 1930, marcaria o corte no
cordão umbilical que ligava ambos. Em 1947, viria o rompimento definitivo, com
o time madrilenho assumindo a denominação que dura até hoje: Club Atlético de
Madrid.
"No início da guerra, o Athlétic de Madrid se
tornou Atlético de Aviación, já que o general Franco não admitia nomes
estrangeiros, e passou a ser ligado à junta militar. O time ganhou bons jogadores
e conquistou o Campeonato Espanhol em 1940 e 1941. Desde então o clube tem
laços com extrema-direita do país", explica Ball. "Há, por exemplo,
uma torcida do Atlético, chamada Bastión, que é explicitamente
neonazista", completa.
Esta preferência política dos torcedores do Atlético
entra em conflito com os bascos, conhecidos pelo seu nacionalismo e pelo
orgulho da terra natal - não por acaso, o Athletic utiliza apenas jogadores
locais. "O significado desta final para os Leones é clara. A projeção internacional
é importante para eles. Mesmo se perderem, ganharam admiradores por conta de
seu estilo e de seu entusiasmo", diz Ball. "Os clubes estão nos
extemos opostos do espectro político", resume Ball.
Torcedores não cultivam rivalidade
Por conta disso, o encontro desta quarta será como o de
velhos amigos que, pelos anos afastados, se tornaram desconhecidos. Atualmente,
entre as torcidas, não há grande companheirismo ou rivalidade acirrada por
conta do passado em comum.
"Apesar de os torcedores do Athletic sempre
fazerem piadas sobre como o Atlético foi criado como uma espécie de filial
deles, não há rivalidade. Acho, inclusive, que existe mais uma simpatia entre
os dois pelas cores e a conexão histórica", diz o brasileiro Fernando
Kallás, radicado na Espanha e torcedor do Atlético de Madrid.
O sentimento de Kallás é parecido com o de Gorka
Venero, fã do clube basco. "Hoje em dia nós vemos o Atlético como qualquer
outro clube. A maior afinidade é que eles têm torcedores tão leais quanto nós.
Mesmo quando jogaram a segunda divisão o estádio sempre estava cheio",
diz.
Agora, mais diferença do que semelhança
Na atualidade, as diferenças acabam sendo mais
perceptíveis. Kallás aponta que, enquanto o Athletic se tornou famoso por só
usar bascos, o Atlético de Madrid ganhou notoriedade exatamente pelo contrário.
"Somos conhecidos justamente por ser historicamente um dos clubes
espanhóis que melhor recebe atletas sul-americanos. Por isso, os torcedores são
conhecidos como Índios", explica o brasileiro. Apesar disso, Venero afirma
que o adversário poderia dar maior valor à base.
"Eles precisam focar em trabalhar melhor os
jovens. A cidade de Madri tem bons jogadores, mas eles preferem atuar no Real.
Isto é um problema para eles", aponta o basco.


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